É o batizando que invoca o nome de Jesus?
“Quem deveria invocar o nome de Jesus na hora do batismo: a pessoa que batizava ou a pessoa que estava recebendo o batismo?
Há um texto bíblico que diz o seguinte:
‘E agora por que te deténs? Levanta-te, e batiza-te, e lava os teus pecados, invocando o nome do Senhor’. Atos 22:16”
Esse texto parece, numa leitura superficial, transmitir a idéia de que o batizando invocava o nome do Senhor no momento do batismo. Porém, quando se lê com mais atenção, verifica-se que essa idéia está equivocada. Dele, analisaremos três verbos, todos no modo imperativo: levanta-te, batiza-te e lava. Todos estão escritos em segunda pessoa (tu) e indicam ações a serem feitas pela pessoa a quem se dirigem. Os verbos no modo imperativo indicam ordem ou pedido que devem ser realizados pela pessoa que recebe a ordem ou o pedido.
Quem deveria levantar: Paulo ou a pessoa que disse a Paulo que se levantasse? Sem dúvida alguma, a ordem foi dirigida a Paulo. Levanta-te é ação a ser feita por Paulo.
Quem deveria batizar: Paulo ou a pessoa que disse a Paulo que se batizasse? Sem dúvida alguma, a ordem foi dirigida a Paulo. Batiza-te é ação a ser feita por Paulo.
Quem deveria lavar: Paulo ou a pessoa que disse a Paulo para lavar? Sem dúvida alguma, a ordem foi dirigida a Paulo. Lava é ação a ser feita por Paulo.
Observe-se que há uma diferença entre o verbo lava e os outros dois: a ausência do pronome de segunda pessoa TE. Esse pronome classifica-se como pronome pessoal. Os pronomes pessoais são aqueles que indicam uma das três pessoas do discurso: a que fala, a com quem se fala e a de quem se fala. O pronome TE é um pronome oblíquo. Pronomes pessoais do caso oblíquo são os que desempenham a função sintática de complemento verbal (objeto direto ou indireto), complemento nominal, agente da passiva, adjunto adverbial, adjunto adnominal ou sujeito acusativo (sujeito de oração reduzida).No caso dos verbos LEVANTA-TE e BATIZA-TE, TE é um pronome pessoal que se enquadra na classificação dos pronomes reflexivos. Pronomes reflexivos são os que, ao mesmo tempo, são o objeto e a representação do sujeito que praticou a ação expressa pelo verbo, ou seja, ocorre quando o pronome representa a pessoa da ação verbal que, reflexivamente, praticou a ação sobre si mesmo (ocupando, simultaneamente, o polo ativo e passivo da ação verbal). O criminoso entregou-se a tempo → note que a ação verbal entregar (verbo transitivo direto) partiu do substantivo-sujeito criminoso e recaiu sobre o pronome-objeto se.
Levanta-te indica que Paulo deveria fazer a ação de levantar, isto é, ele levantaria a ele mesmo. Isso é diferente de dizer: Levanta o braço, por exemplo. Batiza-te indica que Paulo deveria fazer a ação de batizar, isto é, ele batizaria a ele mesmo. Isso é diferente de dizer: Batiza o pecador, por exemplo. São, portanto, ações que Paulo deveria fazer em relação a ele mesmo, isto é, ele é o sujeito ativo e passivo da ação verbal. Já o verbo “lava”, pela ausência do TE, indica que Paulo faria uma ação que seria sofrida por outro ser, no caso do texto, os pecados. Não lavaria a si mesmo, mas lavaria seus pecados. Se fosse “lava-te”, entenderíamos perfeitamente que Paulo deveria banhar-se.
Analisemos a relação existente entre o verbo BATIZA-TE e a última parte do versículo: “invocando o nome do Senhor”. Batiza-te, como foi dito acima, era uma ordem a ser executada por Paulo e não por quem lhe ordenava o batismo. A última parte do texto (“invocando o nome do Senhor”), se estivesse associada ao verbo “batiza-te”, levar-nos-ia a concluir que o batizando deveria invocar o nome do Senhor sobre si no momento em que efetuasse seu próprio batismo. Porém, se alguém ler o texto e interpretá-lo de forma a tentar provar que era a pessoa batizada que invocava o nome do Senhor, deverá admitir, também, que Paulo fez seu próprio batismo, já que a forma verbal imperativa existente no texto, associada ao pronome pessoal reflexivo TE, declara isso, o que mudaria completamente a forma como os batismos foram e são realizados.
Uma coisa está ligada à outra: Se Paulo fez seu próprio batismo, ele também invocou o nome do Senhor ao mesmo tempo. É a forma como se apresenta o verbo do texto que nos assegura isso e não há como ignorá-la. Mesmo que alguém tente dizer que a forma verbal imperativa “batiza”, associada ao pronome “te”, não significa exatamente o que ela realmente expressa, esbarrará na impossibilidade de provar que o modo imperativo não é imperativo e que o pronome ali usado não é reflexivo. Seria o mesmo que tentar provar que seis não é meia dúzia.
Portanto, é impossível usar Atos 22: 16 para provar que o batizando invocava o nome do Senhor em seu batismo, já que “batiza-te” é forma verbal imperativa e indica ação a ser feita por Paulo e que tal forma, associada a “invocando o nome do Senhor”, implicará afirmar que Paulo batizou a si mesmo, invocando o nome do Senhor. Em Mateus 28: 19, Jesus usa a expressão “...batizando-as...”; em Atos 2: 38, usa-se “...seja batizado...”; em outros textos aparecem expressões como “eram batizados”, “foram batizados”, “foi batizado”. Todas essas expressões indicam alguém batizando ou recebendo ordem para batizar uma ou mais pessoas.
Por outro lado, temos a parte do texto que diz: “...e lava os teus pecados...”, que também será analisada em sua relação com “...invocando o nome do Senhor”. Há uma ordem dirigida a Paulo para que este efetuasse a ação de lavar seus pecados. Na Bíblia, não há referência a tal fato como sendo executável pelo pecador. Ef. 5: 25 e 26 “25 Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, 26 Para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra”. Neste texto, temos a Expressão lavagem da água não como ação a ser feita pelo pecador, mas como obra de Cristo. Tit 3:5 diz: “Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo”. Aqui, também encontramos que o ato de lavagem não cabe ao homem, mas a Cristo. Apo 1:5 diz: “E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra. Àquele que nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados”. Mais um texto que demonstra ser Jesus Cristo quem nos lava de nossos pecados.
Sabemos que é indiscutível que LEVANTA-TE é ação a ser feita pelo apóstolo, porém BATIZA-TE, que segue a mesma forma de ação do verbo LEVANTA-TE, não pode ser ação executável por Paulo. Sabe-se que o apóstolo foi batizado por outra pessoa e não por si mesmo (Atos Ato 9:18). Muito menos o verbo LAVA pode ser atribuído a uma ação humana, visto que a lavagem e a purificação de nossos pecados são feitas por Cristo.
Diante de tudo isso, pode-se concluir que o batizando não invocava o nome de Jesus no batismo e que muito menos executava a ação de lavar seus próprios pecados. Somente a graça de Deus pode nos iluminar e nos guiar na direção correta da Palavra, pois qualquer leitura superficial e sem auxilio divino pode nos levar a uma conclusão errada.